A nossa vida decorre num mundo a quatro dimensões, três das quais espaciais e a quarta, de índole bem específica, o tempo.
Assim, na nossa experiência corrente de escuta, somos capazes, em relação a uma qualquer fonte sonora, de identificar a distância a que se encontra, bem como a posição em elevação e azimute, para além de, obviamente, sabermos quando emite e quando cessa a emissão.As tecnologias de som 3D visam criar a ilusão da perceção em condições como naturais, em ambientes que representam “realidades construídas”.
Assim, por exemplo em teleconferências, poder-se-á, graças a técnicas de espacialização dos sinais sonoros emitidos pelos locutores, tornar “mais naturais” as comunicações, todavia as possibilidades de aplicação transvasam largamente o domínio profissional: imagine-se a ir a um concerto – e estamos em época onde abundam – e pretender compartilhar com amigos a envolvência sonora que experimentou, “transportando-os” para tal envolvência …
Para tornar tudo isto possível, há que desenvolver tecnologias apropriadas de codificação dos sinais, sua transmissão, decodificação na receção e adaptação ao sistema de escuta. Embora o multimédia tenda a generalizar-se, o áudio mantém-se como via privilegiada de comunicar. A telefonia, limitada durante muito tempo à banda passante de (300 Hz – 3400 Hz), viu-se, no início deste século, com esta banda aumentada substancialmente (50 Hz – 7000 Hz), o que se traduziu em melhoria considerável da qualidade das comunicações.
Outra alteração importante foi a passagem ao estereofónico, multicanal, o que veio colocar problemas a respeito do transporte dos fluxos de informação correspondendo a diversos canais, requerendo o desenvolvimento de codecs dedicados ao áudio. Uma questão também crucial é a da compatibilização dos conteúdos áudio multicanais com os dispositivos de que dispõe o auditor para a escuta, verificando-se, face à heterogeneidade de formatos, a necessidade de dispor de ferramentas que adaptem os conteúdos ao dispositivo de restituição disponível.
E, em concreto, o que poderemos esperar, como utilizadores?
Talvez, para breve, o conceito de “telepresença”, introduzido no final do século passado, se estabeleça de modo a permitir dar a ilusão, às pessoas em comunicação, que se encontram presentes no mesmo espaço.
O reforço do estar junto na virtualidade! Será que isto poderá contribuir para melhor aproximar do outro real? Agora que, embora muito afastado espacialmente, o posso “ter” ali junto a mim serei capaz de o apreciar mais irmãmente? Interrogações a que, cada um de nós, terá de dar resposta, a sua resposta.
Como em muitas outras situações, é difícil delimitar tudo o que pode ser imaginado e que a técnica consiga materializar. Todavia, na comunicação a distância, o telefone permanece, nas utilizações correntes paradoxalmente monofónico.